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Profº Luiz Cesar de Queiroz Ribeiro, coordenador Observatório das Metrópoles

Profº Luiz Cesar de Queiroz Ribeiro, coordenador Observatório das Metrópoles

Para o coordenador nacional do INCT Observatório das Metrópoles, Luiz Cesar Queiroz Ribeiro, ao analisar 30 anos de transformações urbanas no Rio de Janeiro a conclusão é de que a metrópole fluminense mantém inalterado o pacto político em torno dos interesses de acumulação urbana e fragmentação da ação governamental, gerando um território segregado e repleto de desigualdades.

No contexto do lançamento do livro “Rio de Janeiro: transformações na ordem urbana”, o profº Luiz Cesar de Queiroz Ribeiro comenta os resultados do estudo e traça um retrato da metrópole fluminense – apontando o que mudou e que se mantém vigente nas dinâmicas de organização social do seu território urbano.

 

O livro “Rio de Janeiro: transformações na ordem urbana” faz uma análise profunda sobre a metrópole fluminense. Qual a conclusão geral do estudo? Ocorreram mudanças na ordem urbana desse território metropolitano? Ou podemos falar mais de permanências?

Luiz Cesar: a conclusão mais geral do livro é que não obstante os diferentes ciclos contidos no período iniciado em 1980 até os dias de hoje: crise, experimento neoliberal e experimento neo-desenvolvimentista –, a ordem urbana da metrópole é a mesma: segregação residencial, desigualdades, manutenção do pacto político em torno dos interesses da acumulação urbana e a fragmentação da ação governamental.

Na segregação mantêm-se o modelo da dupla gramática: distância social e proximidade territorial (favela x bairro nobre); distância social e distância territorial (bairros nobres (concentrados no núcleo  do município do Rio) e periferia metropolitana. No entanto, algumas transformações ocorrem no período: os bairros nobres ficam mais homogeneamente nobres com o deslocamento dos segmentos mais populares e médios; as favelas ficam menos homogêneas e as periferias mais diversificadas. Mas tais mudanças não alteram a ordem urbana constituída. Ao contrário, acentua pela maior distância entre bairros nobres e favelas, bairros e periferia metropolitana.

O livro também analisa as desigualdades de oportunidades relacionado ao urbano. Quais os resultados?

Luiz Cesar: As desigualdades urbanas mantêm-se no que concerne ao acesso ao bem-estar urbano, mas muda o registro. Agora não é mais uma desigualdade do tipo “soma zero” , já que muitos investimentos públicos chegaram à periferia no bojo da redemocratização do país e das lutas sociais, mas agora surge a dimensão da qualidade do bem-estar, já que estes investimentos foram feitos sob a dinâmica clientelista.

Os constantes tormentos das enchentes da Baixada Fluminense estão aí como prova, assim como as catástrofes dos deslizamentos das favelas. Está ainda em nossa memória o caso do Morro do Bumba. Por outro lado, surgem agora uma dimensão nova da desigualdade que a relativa as estruturas de oportunidades. Estudamos no livro as desigualdades na metrópole em termos de acesso a oportunidade educacional de jovens e crianças. Em outro livro também publicado pelo Observatório das Metrópoles “Rio de Janeiro: a space in transition” também estudamos a desigualdade em termos de oportunidade no mercado de trabalho.

A conclusão geral é de que, não obstante a elevação geral do patamar de condições urbanas de vida e de acesso a oportunidade, o espaço metropolitano do Rio continua marcado fortemente pela desigualdade.

O novo estudo também analisa os fatores econômicos e políticos na Metrópole do Rio, e o seu papel na conformação do espaço metropolitano?

Luiz Cesar: A economia política da metrópole permanece comandada pelas forças e pelos interesses conformados pelos circuitos da acumulação urbana: imobiliário, obras públicas, transportes urbanos e serviços coletivos. Este circuito se conforma no Rio de Janeiro no início do século XX com as primeiras grandes obras de renovação da cidade e constrói um pacto de poder que comanda a metrópole desde então promovendo repetidos ciclos de renovação: Porto da Cidade-Avenida Central (Pereira Passos); Invenção da Zona Sul (Aterro do Flamengo, Copacabana, Ipanema, Leblon); Invenção da Barra da Tijuca e Reconquista do Centro (Porto Maravilha).

Mas há transformações desta economia política nos últimos anos do presente ciclo. De um lado, as empreiteiras de obras públicas se transformaram em Grandes Grupos Econômicos e passaram a agir também na lógica da acumulação financeira – acumula-se não apenas com os negócios na cidade, mas negociando a cidade; o capital incorporador também se transforma em sentido aproximado, deixando de empreender molecularmente  na cidade, mas através de grandes operações imobiliárias, algumas associadas com o capital de obras públicas, além de realizar empreendimentos imobiliários associados aos fundos imobiliários; as empresas de ônibus deixam de ser familiar e passam a atuar também como grande empresas e diversificam seus investimentos; e entram na economia política novos protagonistas da indústria mundial de divertimento como resultado na estratégia dos últimos 20 anos de inserir a cidade do Rio de Janeiro na divisão mundial do consumo – com os megaeventos Copa do Mundo, Jogos Olímpicos, Rock in Rio, etc.

O livro aponta para a manutenção do pacto político pela acumulação urbana. Essa é a principal característica da organização urbana do Rio?

Luiz Cesar: A manutenção e reprodução do pacto político da acumulação urbana até certo ponto explica a dificuldade de termos um desenvolvimento industrial. Além das questões decorrentes da localização da metrópole do Rio na proximidade do maior espaço industrial do Brasil que é São Paulo, não há políticas efetivas de industrialização da metrópole. A nossa marginalização histórica se transformou em “nossa vocação” no discurso dos dirigentes: somos uma metrópole vocacionada para os serviços.

Também este pacto político mantém a fragmentação da ação governamental na escala metropolitana e mesmo no território urbano da cidade do Rio de Janeiro. É o que chamamos no livro da coexistência de múltiplas gramáticas. Na periferia, a política urbana é submetida fortemente à lógica clientelista; como também nas favelas. As áreas nobres são submetidas ao empreendorismo  e sua modernização liberal.

Leia no link a seguir a Análise de Luiz Cesar Ribeiro sobre 30 anos de transformações urbanas no Rio de Janeiro.

 

Faça o download do livro “Rio de Janeiro: transformações na ordem urbana”.