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A taxa de pobreza nas regiões metropolitanas brasileiras caiu de 31,3% para 27% entre 2021 e 2022. Em termos absolutos, mais de 3,4 milhões de brasileiros residentes nas metrópoles saíram da situação de pobreza, e 1,8 milhões deixaram a extrema pobreza. Ou seja, a quantidade de pessoas que ultrapassou a linha de pobreza ou de extrema pobreza nesse período supera a população de muitas das grandes cidades do país. As informações estão presentes na décima terceira edição do “Boletim Desigualdade nas Metrópoles”, produzido em parceria pelo Observatório das Metrópoles, PUCRS Data Social, e a Rede de Observatórios da Dívida Social na América Latina (RedODSAL). “Podemos destacar a combinação de dois fatores: o crescimento da renda média, ou seja, um aumento do volume de recursos, e a melhora da distribuição de renda, que levou à queda da desigualdade no conjunto das metrópoles brasileiras. Como consequência, houve a redução da pobreza”, ressalta o coordenador do PUCRS Data Social e um dos autores do estudo, Andre Salata.

Para explicar o aumento da renda média, o principal fator foi a renda do trabalho, que subiu de R$ 1.428,00 para R$ 1.507,00 na renda domiciliar per capita entre 2021 e 2022.  A desocupação no país também saiu da casa de 11% para 8,5%. “A recuperação da economia e a redução da desocupação tiveram um peso muito grande no aumento da média de rendimentos. A desigualdade teve uma redução por conta da renda do trabalho, que teve uma importância muito grande. E o crescimento da renda do trabalho foi proporcionalmente maior para os estratos mais baixos da população das regiões metropolitanas”, pontua Salata. Se verificar os 10% mais pobres, o crescimento da renda do trabalho foi de mais de 60%. De acordo com ele, são aqueles estratos que mais perderam com a crise da pandemia, porque são os menos escolarizados e estão concentrados no setor informal, e agora com a recuperação do mercado de trabalho e a atividade econômica retornando, são os que proporcionalmente se beneficiaram mais, no que diz respeito à renda do trabalho.

Sobre o aumento da renda, o estudo mostra que o rendimento médio nas metrópoles, que havia sofrido forte queda em 2020 e 2021, voltou a subir, alcançando o valor de R$1.984. A elevação entre 2021 e 2022, de 6,5%, ainda não foi suficiente para trazer a média de volta ao patamar anterior à pandemia, mas já indica uma reversão brusca de trajetória. Além disso, o estrato que mais se beneficiou desse movimento foi o dos 40% mais pobres. O estudo mostra que entre estes a média de renda subiu 17,5%, o que é significativamente mais alto que a elevação de 8,4% no estrato dos 50% intermediários, ou que a alta de 2,3% entre os 10% mais ricos. Em números absolutos, a renda dos mais pobres chegou a R$510, superando o valor encontrado 2020 (R$504), e se aproximando daquele registrado em 2019 (R$515). Consequentemente, a desigualdade sofreu redução entre 2021 e 2022. O coeficiente de Gini – quanto maior, mais elevada a desigualdade – para o conjunto das metrópoles, por exemplo, caiu de 0,565 para 0,545 em apenas um ano. Dessa forma, chegou ao seu menor valor desde o ano de 2016.

Além dos dados para o conjunto das regiões metropolitanas, o estudo traz informações detalhadas para cada uma das vinte e duas metrópoles do país. No Rio de Janeiro, por exemplo, a taxa de pobreza variou de 29,7% para 25,3% entre 2021 e 2022, o que em termos absolutos significa que mais de 540 mil pessoas saíram da pobreza naquela região. Já em São Paulo, a variação foi de 23,9% para 20,2%, o que se traduz em mais de 790 mil pessoas ultrapassando a linha de pobreza. Em relação à extrema pobreza, a redução foi de, por exemplo, 11,2% para 6,9% na Grande São Luís, de 13,9% para 9,6% no Recife, e de 12,6% para 6,2% em Belém.

Programas de Transferência de Renda

Embora a redução das desigualdades tenha se dado principalmente pela renda do trabalho, isso não significa que os Programas de Transferência de Renda não tiveram importância. Eles foram importantes para explicar a redução da extrema pobreza. “Saiu do auxílio de R$ 400,00 em 2021 para o de R$ 600,00 em 2022, o que foi importante, além da melhora na focalização destes programas”, explica Salata. De acordo com ele, isso explica parte do porquê ocorreu uma redução das desigualdades e que resultou na redução da pobreza. Mas o principal fator ainda foi a recuperação da renda do trabalho que é, em média, mais de 70% da renda dos domicílios.

“O primeiro componente foi a renda do trabalho e, junto a isso, com uma importância relativamente menor, as mudanças nos Programas de Transferência de renda, que foram especialmente importantes para a redução da extrema pobreza, ainda que mesmo para extrema pobreza a renda do trabalho tenha sido mais relevante”, diz Salata. Um outro aspecto é a redução da inflação, que em 2022 foi menor que em 2021. “Isso de algum modo contribuiu para a manutenção de um certo poder de compra. Inclusive, era um dos motivos que os grupos de maior renda haviam perdido em 2021, ou seja, a renda média em relação aos períodos anteriores”, justifica o pesquisador do Observatório das Metrópoles e, também, coordenador do estudo, Marcelo Ribeiro.

Cenários para 2023

Conforme Ribeiro, o Brasil está entrando em uma conjugação bastante positiva de aumento do crescimento da economia, mais do que se esperava em relação à redução da inflação que se estava prevendo e, também, de redução da taxa de desemprego. “Isso significa, principalmente, a inserção das pessoas mais pobres no mercado de trabalho”, pondera. Até porque, segundo ele, os 10% mais ricos não foram os mais atingidos nesses períodos anteriores pelo desemprego. Esse cenário de redução de inflação, de taxa de desemprego e do crescimento econômico, ao contribuir para uma dinamização do mercado de trabalho, permite um maior acesso à renda das famílias em geral, e isso pode possibilitar tanto uma continuidade da redução das desigualdades quanto na redução da pobreza. “A extrema pobreza precisa de políticas sociais para atender esse público, só o mercado de trabalho não é suficiente, mas para a redução da pobreza em geral e das desigualdades, aquilo que se apresenta hoje é de uma melhoria das condições ao longo do tempo”, conclui.

Os dados do estudo são provenientes da PNAD Contínua anual (acumulados na 1ª visita até 2015 e na 5ª visita a partir de 2016), do IBGE, e dizem respeito à renda domiciliar per capita total. O recorte utilizado é o das 22 principais áreas metropolitanas do país, de acordo com as definições do IBGE. Todos os dados estão deflacionados para o ano de 2022, de acordo com o IPCA. O estudo trabalha com as linhas de US$6,85 PPC para pobreza e US$2,15 PPC para a extrema pobreza, assim como definidas pelo Banco Mundial. Em valores mensais de 2022, a linha de pobreza é de aproximadamente R$636 per capita e a linha de extrema pobreza é de aproximadamente R$199 per capita.

Confira na íntegra o “Boletim Desigualdade nas Metrópoles nº 13”.

Acesse aqui as tabelas e gráficos do estudo.